Os desenhistas e a tecnologia – Tira #4

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Antes que a AI (inteligência artificial) se desenvolvesse, parecia que os desenhistas e a tecnologia estavam se acertando, ainda que houvesse alguns atritos ideológicos e técnicos, mas, temos visto que nos últimos tempos essa relação tem sido um pouco desgastada.

Lembro muito bem quando as mesas digitalizadoras começaram a entrar no cotidiano dos desenhistas mais próximos de mim, quando comecei a aprender a desenhar fazendo meu primeiro curso de desenho. Muitos comentavam sobre elas, mas não tinham; alguns adquiriram mas não se adaptaram e abandonaram; e uma pequena turma que possuía, dizia ter vantagens e desvantagens. Eram vários pontos de vista que me faziam entender que existiam diversas variáveis, pois, o julgamento de ser algo bom ou ruim, dependia muito da personalidade de quem julgava, do nível que cada um tinha de desenho, e ainda porque as ferramentas da época realmente deixavam a desejar em alguns aspectos; assim existiam ferramentas boas, ruins e outras que poderíamos dizer que eram péssimas. Mas o que se via nesta adaptação, era que alguns a usavam para desenhar desde o esboço até a pintura; enquanto outros preferiam usá-la somente para fazer a pintura, já que sua sensibilidade não era lá muito boa.

O tempo passou e a tecnologia deu origem a ferramentas mais robustas e com uma sensibilidade admirável, como é o caso dos softwares, que paulatinamente foram agregando detalhes que expandiram as possibilidades para os desenhistas melhorarem a sua arte. O que antes levava-se horas para fazer, nas tradicionais técnicas, passou a ser feito também com uma redução de custo, pois, um programa gráfico pode facilmente emular uma série de ferramentas de um ateliê de arte. O curioso é que parte desta facilidade tem gerado uma polêmica grande, como vimos em muitas edições dos concursos de desenho do Desenho Online, onde alguns desenhistas se manifestavam em peso por sentir uma concorrência desleal, quando colocávamos os desenhos digitais concorrendo com os desenhos tradicionais, e vice versa. Mais uma vez vemos uma divisão de opiniões entre as diferentes técnicas.

Mas antes disso houveram ferramentas muito piores, como já descrevi no post “Os ancestrais da mesa digitalizadora“; e até mesmo entretenimento de robôs que simulavam uma pessoa desenhando, do século XVIII, os famosos autômatos que desenham feitos por relojoeiros. Mas como agora a tecnologia deu asas a uma ferramenta que literalmente supera a qualidade de arte de um desenhista profissional, ainda que precise eventualmente de alguns retoques, a provocação foi grande, e que motivou a uma discussão forte no mundo da ilustração, como ocorreu após uma arte feita por inteligência artificial ganhar um concurso de pintura digital em primeiro lugar. Isso sem dúvida coloca em cheque a segurança profissional dos desenhistas, dado que se é tão fácil um tecnologia dessas fazer um trabalho tão bom, é evidente que a profissão desenhista estará sendo paulatinamente prejudicado pela redução da procura por clientes. E afinal, se existe algo barato e fácil de usar, porque outras pessoas iriam pagar um desenhista profissional? É aí que começou a surgir o medo dos desenhistas.

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