A Era dos Sketchbooks

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Como uma onda, os sketchbooks crescem em importância e valorização no mercado editorial brasileiro.

Por René Ferri

 

 Sketches — esboços de arte

O esboço, o rascunho, aquilo que significa a demonstração primária de algo que pode vir a ser uma obra de arte, recebe no idioma de Shakespeare um nome bem sonoro: sketch — o inglês tem esse trunfo inexistente noutras línguas: a sonoridade da grafia; muitas palavras escritas em inglês soam mais ou menos aquilo que elas representam, daí, jump (pular), stretch (esticar), stop (parar), splash (borrifo) etc.

Para ouvidos afinados e com alguma boa vontade, a sonoridade de sketch sugere a grafite e o carvão raspando a superfície áspera do papel e da tela, suportes que depois vão receber outros tratamentos e materiais, e que vão resultar no final, talvez, em arte-final ou num quadro colorido.

 

Sketch na música, cinema e artes plásticas

O esboço se apresenta forte em outras artes — por exemplo, um dos discos fundamentais de Miles Davis chama-se Sketches of Spain (julho de 1960) — e o que fez o mítico trumpetista americano nesse disco? Pinçou esboços de músicas clássicas, derivadas do folclore espanhol, e com eles criou novas peças musicais, jazzísticas, naturalmente. O empreendimento foi tão bem sucedido que à época se acreditava que o músico realizaria uma série: Sketches of Italy (England, Japan, etc.), mas isso nunca aconteceu.

 

No cinema, fiquemos com o exemplo da Pixar. Nos últimos preparativos para lançar Toy Story (1994), o comando da empresa, durante um almoço, lembrou que não tinha planos para as próximas produções, daí, naquele instante e lugar, John Lasseter, Andrew Stanton, Joe Ranft e Pete Docter esboçaram em guardanapos de papel que estavam à mesa os temas e os personagens que formaram a base das quatro próximas produções, A Bug’s Life, Monsters, Inc., Finding Nemo, e WALL-E, com as quais a Pixar dominou o cinema de animação.

Harold Lloyd

Ainda na tela grande, sabe-se que Chaplin, Buster Keaton e Harold Lloyd, três dos maiores cômicos do cinema, faziam croquis sequenciados de suas gags cinematográficas no papel antes de as colocarem diante das câmeras. Fellini, que era um desenhista de grande talento, desenhava e colorizava cenas inteiras de seus filmes no papel — por sinal, boa parte dos sketches de Fellini foi editada em livros.

Na pintura, como imaginar a feitura de obras grandiosas, verdadeiros tesouros da humanidade, desde os clássicos renascentistas aos acadêmicos brasileiros, sem uma imensidão de esboços, de ideias rascunhadas antes de chegar aos comoventes e inspiradores resultados finais?

 

O que é sketchbook?

Chegamos ao moderno sketchbook, cuja tradução mais simples seria livro de esboços. Seu valor é fundamental para o artista, pois é um objeto e ferramenta de trabalho, é o lugar onde ele guarda suas reflexões, ideias e inspirações sob a forma de esboços — é onde o artista faz proliferar seu inconsciente artístico e libera suas emoções, é o caldeirão onde fermentam suas futuras realizações.

 

 

A origem

A arte acompanha o ser humano por toda sua história, e a pintura tem sido uma das principais formas de representação artística; quando a arte pictórica se consagrou e os artistas se profissionalizaram, os trabalhos de arte passaram a ser obras planejadas — naturalmente, os autores criavam esboços antes cobrir as superfícies, quaisquer que fossem, com tinta. Assim, os sketches acompanham toda a evolução da arte até nossos dias, e proliferaram a partir do século XIX — os anos 1800 —, quando os lápis foram fabricados pela primeira vez, no início daquele século.

Pela praticidade e versatilidade, além da acessibilidade, os lápis se tornaram as ferramentas de desenho preferidas dos artistas; a facilidade de seu uso fez com que os esboços passassem a ser mais abundantes que em épocas passadas. Jean-Auguste-Dominique Ingres, Francisco Goya e Edgar Degas estão entre os primeiros grandes mestres a trabalhar intensamente com os lápis.


O barateamento das técnicas de impressão do século XX levou à duplicação das obras de arte por meio de processos gráficos e em forma de livros, e consequentemente, à reprodução dos cadernos de esboços dos artistas, também.

 

O sketchbook e os eventos de cultura pop

Enquanto produto, o sketchbook se agigantou ultimamente em importância, pois, com a proliferação de eventos de cultura pop, mais conhecidos como feiras de quadrinhos ou de animes/mangás, hoje promovidos às dezenas, anualmente, o artista tem apresentado sua produção ao público por meio desses cadernos de esboços impressos, utilizando-os como amostras sofisticadas de seu portfólio, uma vez que cabem num sketchbook trabalhos autorais, desde os mais simples aos mais complexos, feitos em distintos momentos de sua carreira, e que vão de prosaicas vinhetas esboçadas até obras maiores, repletas de elementos e de detalhes de acabamento. O sketchbook pode, enfim, ser mostrado conforme for a vontade do autor.

Para o público interessado, seja estudante, fã ou apreciador de arte, o sketchbook é inspirador, pois revela, em parte, os métodos criativos empregados pelos artistas que ele aprecia para chegar às obras finais. Também tem um viés instigante para artistas em formação, na medida em que ele estimula a produção de arte, pois não há artista iniciante (ou não) que não deseje ver seu trabalho publicado e compartilhado, e esse meio é o mais acessível, o mais democrático, pode-se dizer, de atingir esse objetivo.

 

A Coleção Sketchbook CUSTOM

Percebendo a tendência do interesse geral pelo sketchbook, a editora paulistana CRIATIVO lançou a Coleção SketchBook Custom, que é exemplar enquanto painel das artes gráficas nacionais, pela capacidade de realçar talentos emergentes e de destacar a produção de autores consagrados. Cada título é dedicado a um artista, que tem a oportunidade em eternizar seu trabalho em um álbum de tiragem limitada. A destacar, também, o ineditismo e magnificência do empreendimento, pois, no prazo em torno de um semestre estão editados quase cem títulos dessa coleção, todos apresentados num mesmo padrão de elevada qualidade editorial e de impressão, multiplicando o interesse pela arte e sua divulgação.

Visando estimular novos talentos e fomentar o intercâmbio de experiências, a CRIATIVO idealizou esta coleção com o intuito de promover a oportunidade de expressão de novos talentos CRIATIVOS, das mais variadas vertentes e gêneros.

A conexão de nomes consagrados com artistas iniciantes vai ao encontro do compromisso principal da editora, que é o de fomentar a criação autoral, incentivar, criar e disponibilizar os meios e oportunidades para o surgimento de novos autores, sendo um instrumento para a capacitação e desenvolvimento artístico e intelectual, acentuando a possibilidade de uma realização plena, proporcionado pelo prazer da criação artística.

 

Coleção Sketchbook Custom – Segundo lançamento: 40 álbuns

 

Coleção Sketchbook Custom – Primeiro lançamento: 30 álbuns

 

2 comentários sobre “A Era dos Sketchbooks

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