Como desenhar sem dom?

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Esta é uma grande questão que divide leigos e desenhistas; mas será mesmo que é possível desenhar sem dom?

É muito comum um desenhista habilidoso mostrar seus desenhos para alguém, e ouvir frases como: “Eu queria ter esse dom” e até outros comentários semelhantes. São comentários que na maioria das vezes evidenciam um pensamento bastante comum, de que a habilidade do desenho é restrita a um seleto grupo de pessoas que nasceram privilegiadas, entretanto, existe outro forte grupo de pessoas, as que acreditam que desenhar bem, vem com a prática. Mas este assunto é plural, pois há uma turma que não possui uma opinião tão extremista, pois consideram também outros critérios. Assim a polêmica vai se estendendo, dando origem a uma discussão que invade as mentes de leigos e desenhistas experientes, e criando uma “torre de babel” do ensino de desenho. Mas antes de aprofundarmos nesta questão, quero destacar e pontuar alguns fatos que venho vendo há mais de trinta anos.

Como o dilema começa

Na infância vemos praticamente todas as crianças dedicarem a atividades relacionadas a desenho, principalmente na pré-escola, uma dedicação importante que lhes auxiliam a desenvolver a coordenação motora fina, que é desenhar, escrever, pintar, um aprimoramento que sucede ao desenvolvimento da coordenação motora grossa, já iniciada quando a criança começou a aprender a andar, pular, entre outros movimentos básicos. Nesta fase as crianças simplesmente dedicam ao desenho sem criar grandes questionamentos quanto a qualidade de suas habilidades, e em geral, se motivando com o incentivo dos pais, professores e pela atratividade do desenho que é uma novidade, mesmo que suas respectivas habilidades com o desenho não sejam lá aquelas coisas. Só quando começam a amadurecer, e a desenvolver a autocrítica, que a maioria desiste de continuar aprendendo a desenhar, pois, os que possuem menos habilidade reconhecem que seus desenhos não são bem o que idealizaram. Aqui há um conflito grande, pois até as opiniões do convívio social ou familiar podem mudar e se tornar uma pressão, que interferem na motivação do potencial desenhista, tenham estas opiniões fundamento ou não. Eis então que as opiniões externas e o despreparo do desenhista o instiga a parar de desenhar.

Se analisarmos com calma, veremos o seguinte. Alguns desistem de desenhar porque realmente não gostam, ou não querem levar o desenho a sério nem por passatempo. Quem gosta e continua tentando aprender a desenhar melhor, tem estímulos positivos relacionadas a uma inspiração natural de arte, ao contemplar a arte de outras pessoas e querer fazer algo parecido, mas que só é efetivo à medida que realmente se empenha em aprender e praticar habilidades e princípios que lhe faltam, geralmente resolvidos ao encontrar bons conhecimentos de professores, livros, revistas, vídeo tutoriais, etc. Ou seja, consegue superar suas principais dificuldades, de acordo com as “armas” que tem e adquiriu”, dado que cada um está inserido em um contexto diferente, com seus aparentes limites e virtudes internas que tem para enfrentar também as dificuldades externas, como a pressão oriunda do meio que vive, e a fatores econômicos, sociológicos. Vale destacar que mesmo sendo dedicado a aprender a desenhar e gostar de desenhar, ele ainda não tem uma garantia de que irá ter bons resultados rápido. É por isso que muita gente treina por muito tempo e não consegue um resultado satisfatório. É aí que entra a questão. Porque alguns possuem facilidade para desenhar e outros não? Assim surge o mais forte dilema, de alguns que dizem que é dom, enquanto outros batem o pé ao dizer que esta habilidade vem com a prática.

É dom ou prática?

Antes de comentar minha opinião, vou falar um pouco da minha experiência, para ilustrar melhor. Eu sou um exemplo de pessoa que não tem o tal “dom”, pois meus primeiros desenhos eram muito ruins, só foram melhorando paulatinamente, inclusive, minhas criações ganharam força depois de fazer um curso, lá para depois da minha segunda década de vida. Sim, eu aprendi errando e praticando muito, então tenho que informar que meu mérito é de mais de 30 anos praticando o desenho, seja lendo livros, assistindo videoaulas, fazendo cursos, lendo revistas e principalmente cultivando valores que não tinha, conquista que veio a partir do momento em que comecei a aceitar e a desenvolver uma nova mentalidade para cada novo ensinamento. Nesse avanço foram necessários os fundamentos de desenho, a repetição de técnicas, reflexões sinceras, contato com novas mentalidades, etc. Mas, também, tenho que comentar o outro lado da moeda, o tal dom.

É inevitável ver pessoas que, mesmo com pouquíssima idade demonstram uma habilidade surreal para desenhar, e que mesmo sem estudo, pegam o lápis e colocam no papel aquilo que muita gente leva anos para conseguir; como é o caso de prodígios como Akiane Kramarik, e a chinesa Tam Tam. Recomendo você pesquisar sobre elas. São fatos que ilustram um possível dom, dado que o tempo de dedicação destas desenhistas não está relacionado a prática que muitos dão crédito, se comparado a outras crianças da mesma idade; mas também não podemos deixar de dizer que foi uma correta e contínua prática que as levaram a melhorarem suas respectivas habilidades, pois na prática, o dom que todos falam é apenas uma boa vantagem que determinada pessoa já traz, pois se fosse o talento pronto, não veríamos evolução. Vai variar em grau, mas o torna distinto da maioria.

Por isso gosto de comentar o seguinte… Independentemente das pessoas não nascerem com uma vantagem inata, muitas querem aprender a desenhar, mas sem ter a paciência de esperar os resultados. Existem aquelas que possuem paciência, mas não portam a disciplina de colocar em prática as técnicas como realmente são ensinadas. Podemos encontrar ainda quem tem paciência e disciplina, mas não buscam novos conhecimentos, ficando estagnados no conhecimento mais básico. Há ainda pessoas que não conseguem resolver ou driblar os problemas externos do meio em que vivem, tais como problemas econômicos, a falta de tempo, entre outros. Temos ainda casos curiosos de bons desenhistas, que se estagnam por não conseguirem a motivação e incentivo que precisam para continuar aprendendo, ou porque simplesmente não gostam de levar seu talento para frente. Assim, aquilo que não é promovido, se estagna ou perde qualidade.

E se eu não tenho o dom?

Já foi provado que bons desenhistas possuem hábitos diferenciados das demais pessoas, uma sensibilidade artística muito bem explanada no livro “Desenhando com o lado direito do cérebro”, onde a autora Betty Edwards explica que para desenhar bem demanda uma mentalidade diferente, uma nova forma de lidar com o aprendizado, principalmente na forma de ver, inclusive porque assim usufruímos das modalidades do hemisfério direito do cérebro, que é ligado a emoção, criatividade, noção espacial; diferentemente das pessoas que geralmente usam mais o hemisfério esquerdo, esta última que é ligada a cálculos, linguagem, lógica. A habilidade dos bons desenhistas, relacionada ao hemisfério direito do cérebro, explico melhor neste post, altamente recomendado para você prosseguir com esta leitura.

Desenhar é uma atividade para todos; mas, alguns só param porque a falta de uma estratégia eficiente para lidar com as próprias dificuldades, o paralisa nesta evolução, afinal, nem todos nós estamos preparados. Como as habilidades e competências variam de pessoa para pessoa, nem sempre o grande empecilho de avançar que paralisa um desenhista será igual ao do outro. Um curso de desenho pode ajudar, mas encontrar as debilidades de cada um e desenvolver o que falta, é um segredo precioso que nem todos professores e pessoas conseguem enxergar fácil. Por isso é preciso uma boa reflexão e análise, e não só ficar copiando desenhos.

Desenhar é para qualquer um, mas para que isso seja um talento, envolve um contínuo aperfeiçoamento de técnicas e desenvolvimento de competências, das quais estas últimas deverão ser os pilares das primeiras. E mesmo que foque nas técnicas, saiba que existem exercícios e atividades que estimulam as modalidades do hemisfério direito do cérebro, pois são eficazes. Isso pode incluir tarefas de diferentes tipos, seja para desenhar uma figura, como as apresentadas a seguir, ou mesmo outras específicas para quem quer ilustrar, mas esta última envolve um profundo estudo sobre os fundamentos de desenho, e é outro estudo que muitos cursos de desenho omitem, deixando o aluno apenas copiando desenhos.

Técnicas e exercícios que ativam o hemisfério direito do cérebro

A seguir apresento algumas dicas para desenhar, mas é aconselhável você começar com exercícios simples, e aumentar a dificuldade à medida que entende e aplica, treinando com mais exemplos se puder. Aliás, ainda existem muitos outros exercícios que fazem isso, estes são apenas alguns exemplos.

  • Desenhe figuras de cabeça para baixo – Você vai deixar de supor o que está desenhando (por símbolos) e será forçado a prestar atenção em cada informação do desenho;
  • Observe as formas geométricas principais das figuras, para poder memorizar proporções e desenhar depois – Ex.: triângulo > casquinha de sorvete, cilindros e cone > garrafa de vinho, círculo > bola;
  • Para desenhar uma figura com mais precisão, observe também a forma do espaço negativo (a parte de fora que geralmente não desenhamos);
  • Olhe o desenho ao lado de um espelho para encontrar erros ocultos de simetria;
  • Treine escrever da direita para a esquerda (se for canhoto faça o contrário) ;
  • Penteei o cabelo com uma mão que não é a dominante (de costume) – Isso o fará desenvolver uma noção espacial;
  • Pratique origami ou esculturas com massa de modelar – Excelentes para você desenvolver noção espacial;

Se você achar estas dicas normais, certeza que você é um grande praticante do desenho; mas, se você achar tudo isso muito esquisito, tenha em mente que essa é a causa de você não desenhar bem, você vai precisar praticar mais e ler bons livros de desenho para se familiarizar com as técnicas de desenho. O que não entendeu aqui, dê uma busca no Google depois.

Por último, mas fundamental, recomendo estudar e praticar os fundamentos de desenho; seja através dos conhecimentos de um livro, curso, videoaula, ou e-book, afinal, esta é a parte mais divulgada e essencial na evolução de um desenhista; que só menciono no final deste post porque é informação mais divulgada; e o post vem preencher uma lacuna que venho enxergando faltar na vida dos que acreditam não ter chance com o desenho.

Agora que você tem acesso a isso, pratique, estude, abra sua mente para uma nova mentalidade. Desenhistas tem uma natureza de artista, uma sensibilidade que é fora da média, e se você que ser um, precisará quebrar alguns paradigmas que vem bloqueando a sua evolução no desenho. Seu sucesso está nas suas mãos, e você pode ir muito além do que imagina.

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Recentemente gravei um vídeo sobre o assunto, onde apresento mais alguns argumentos sobre esta questão, e que você poderá assistir a seguir. Ah, não esqueça de se inscrever no canal, se você for novo por lá.

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