É preciso dom para aprender a desenhar?

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A objeção de não ter o dom tem se demonstrado um entrave clichê para muitos desenhistas iniciantes. O curioso é que mesmo muitas pessoas tendo uma grande vontade de aperfeiçoar suas respectivas habilidades, não levam o aprendizado do desenho adiante por trazerem a tona este mesmo argumento. Mas, se muitos repetem isso, será mesmo que esta crença procede? Bem, tem coisas que passam despercebidas e que você e provavelmente outros desenhistas não saibam.

Na minha idade já vi pessoas dos mais variados tipos. Existem desde pessoas com uma vontade incrível de aprender a desenhar, mesmo desenhando muito mal; e outras que até com certa habilidade não ousam dedicar tanto ao desenho porque acreditam não estar em um nível razoável para se dedicar a aperfeiçoar. Estas são duas situações opostas e curiosas, mas existem muitas outras, pois, de fato, o mundo vem provando que existem pessoas de todos os jeitos possíveis, para os mais diversos tipos de situações; mas, para essas e todas as outras situações, é que venho trazer alguns fatos e observações, e assim tentarmos chegar a um entendimento sobre esta questão, se o dom é fundamental ou não. Pense então nos seguintes aspectos…

O primeiro ponto a se considerar, é com relação aos gostos, objetivos e natureza de cada um. Quando alguém gosta realmente de algo, como por exemplo desenhar, o comum esta pessoa dar muitas investidas em querer aprender a desenhar, ainda que apresente um péssimo desempenho por não ter um bom método. Muitos, sabendo que não são muito bons em desenho, dedicam mais pelas qualidades da atividade em si, seja por desenvolver concentração, disciplina, entre outros benefícios, e, tem alguns que estão mais interessados no resultado, e se não chegam na qualidade que precisam, ou se frustram e desistem de vez, ou se contentam com aquilo que conseguiram, e se mantém aprendendo a desenhar.

O segundo critério a se considerar se relaciona com os obstáculos da trilha de cada um. Problemas diversos podem surgir na caminhada do desenhista, tais como, problemas financeiros, relacionamentos que tiram a atenção, doenças, questões profissionais ou carreira que estão mal resolvidos ou deixando você em cima do muro, etc.

O terceiro envolve o caminho que você está trilhando. Sim! Cada estilo de desenho, o método utilizado, cada opção que você escolheu poderão exigir mais ou menos de você em seu aprendizado. Existem estilos mais fáceis, outros mais difíceis, mas, se as qualidades de alguns destes estilos se relacionarem mais com as características da personalidade do desenhista, provavelmente este desenhista aprenderá a desenhar mais rápido. Veja que, com um pouco de reflexão, podemos ver que alguns estilos por si só se alinham com nossos gostos, como é o caso de fãs da cultura japonesa que entendem melhor os traços do mangá e anime; ou pessoas mais divertidas e criativas que se interessam mais em brincar com o traço cartoon. Mas há casos e casos. O método, por exemplo, pode envolver elementos importantíssimos que poderão dar mais condições de aprendizado ao desenhista, mas como nem sempre o desenhista encontra aquele que melhor se alinha com sua linguagem, nem estimula o hemisfério direito por não saber, ele fica a mercê das circunstâncias que está inserido ou conseguiu.

O quarto se baseia em como você está. Sim, nossa vida é feita de diversos momentos, seja de felicidade, tristezas, alegrias, entre muitas outras coisas. Mas se mesmo o seu entorno estiver bem, mas você não, é sinal de que você precisa rever coisas que anda ignorando ou até mesmo conhecimentos inerentes a desenho e que irão lhe ajudar a melhorar a sua motivação para aprender a desenhar. Se o seu entorno não está legal, talvez seja hora de buscar artifícios para melhorar o cenário ou ambiente que está inserido.

A última observação é com relação às crenças limitantes. Veja que se você não tem muito claro o processo de aprendizado do desenho, você pode ser um alvo fácil das crenças limitantes de outras pessoas; afinal, você não desenvolveu uma comprovação para muitas coisas. Para quem não sabe, as crenças limitantes se referem a uma opinião sobre algo que não se baseia em uma verdade ou fato. Elas são herdadas pelo convívio familiar ou social, e que ao serem transmitidas, afetam o modo que cada um pensa, porque não procedem de fato; afinal, e para muitos assuntos da vida, nos posicionamos reproduzindo opiniões que não são nossas, e é por isso que muitas opiniões se instalam e geram os automatismos. Ouvimos muitas pessoas leigas dizerem que desenhar é apenas para quem tem dom, e isso ganha força na cabeça de outras pessoas. E se quem diz algo infundado, é respeitado por um grupo de pessoas, é bem possível que estas últimas copiem aquilo que ele disse.

O dom que as pessoas se referem, muitas vezes é uma afirmação extremista, ou a pessoa tem, ou não tem. Mas se analisarmos com calma, o que vemos, é o talento que um seleto grupo de artistas apresentam desde cedo, e que é incompatível com suas respectivas idades. Como se fosse uma vantagem. Nesse sentido podemos citar exemplos de personalidades que chamaram a atenção do mundo, como é o caso da chinesa Tam Tam aos três anos, e da norte americana Akiane Kramarik, que aos quatro anos começou surpreendendo os próprios pais. Mas, para ambos os casos foi a prática e a superação que as levaram a subir de nível, dado que o talento não é estático, ele pode ser aperfeiçoado. Veja que, um dos grandes mestres do desenho sem esboço, Kim Jung Gi, mencionou em uma entrevista, que um de seus grandes segredos, é aproveitar o tempo observando, desde pessoas andando, a pequenas coisas do dia a dia. E veja, só neste exemplo de Kim, ele nos fornece um método poderoso sobre a mentalidade de aprender a desenhar, que trabalha um ponto que a maioria deixa passar batido, a observação. Para muitos a prática de copiar desenho é o caminho, mas vemos com a experiência, que a observação é um outro ponto fundamental.

Podemos perceber, portanto, que existem muitas variáveis no crescimento do desenhista, variáveis que inclusive ele irá conhecendo e valorizando à medida que for evoluindo. Por isso aquele que é mais humilde e persistente tem mais chances de evoluir, dado que esta transparência lhe permite reconhecer aquilo que lhe falta, e ainda a se lançar a caminhos que muitos tem medo ou receio de não dar certo. Nascer com o dom pode ser uma vantagem, mas só uma sadia continuidade mostrará uma amadurecimento técnico e pessoal.

Nessa evolução, alguns poderão trilhar o caminho como autodidata, ou mesmo por um curso de desenho. Em ambas as escolhas, não há garantias; mas é certo que os critérios que mencionamos acima irão interferir consideravelmente; mas é certo que tendo alguém para lhe indicar o caminho, como um bom professor, mais chances terá de aprender.

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