Franco de Rosa em entrevista exclusiva ao blog desenhoonline.com

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O entrevistado de hoje é Franco de Rosa, um autor de livros teóricos, curador de exposições, desenhista, editor, ilustrador, jornalista e roteirista. Só não foi Power Ranger ainda, mas esteve por trás de diversas histórias de super-heróis, personagens, além de diversas outras publicações de sucesso para o mercado nacional e internacional. Trabalhou para grandes editoras como Ediouro e Escala, assim como fundou algumas e dedicou-se a empreendimentos e trabalhos independentes.

Conquistou o Troféu Angelo Agostini em diversas categorias, como: Mestre do Quadrinho Nacional, em 2010; Troféu Jayme Cortez em 1991 e 1992, e, pela Opera Graphica em 2002, 2003 e 2004; também venceu como Melhor Editor, em 2003, junto com Carlos Mann. Outras e várias das publicações editadas por Franco de Rosa, também foram agraciadas com o Troféu Angelo Agostini, inclusive com o Troféu HQMIX.

 

Desenho Online – Conte-nos, como surgiu seu interesse pelos quadrinhos?

Franco – Eu comecei a ler quadrinhos aos oito anos. História da Humanidade e Histórias da Bíblia, em uma coleção chamada Trópico. Gostava das obras. Eram desenhadas por Giorgio Scudellari, na Itália. Depois, ele viria para o Brasil, onde realizaria o Drácula. Também lia Tio Patinhas e Campeões do Oeste, Rock Lane e Tarzan. Aos 11 anos comecei a colecionar os super-heróis da Marvel e Tarzan. Copiava os desenhos durante algumas horas, quando ficava no balcão da pequena mercearia da família. Depois, quando estava no colégio, comecei a desenhar tiras para o jornal da escola.

 

 

Desenho Online – Como era o seu contato com o Clube do Gibi?

Franco – Ao proibirem a circulação do jornal da escola onde eu publiquei minhas primeiras tiras, impressas em mimeógrafo. Eu criei um fanzine com um colega de classe, Mateus Bio. Soube da existência da Livraria Gibi em um artigo publicado em uma revista em quadrinhos da Ebal. Então fui até lá, levando meu fanzine. Na Livraria Gibi conheci colecionadores como Giovanni Voltolini, Geraldo Cachola, Fábio Santoro e José Renato. Pessoas de meu círculo de amizade até hoje. Conheci também autores já consagrados como Gedeone Malagola, Diamantino Silva, Jayme Cortez, Mauricio de Sousa e Álvaro de Moya. Mais a nova geração, com quem formei um grupo de artistas realizadores de tiras e trabalhos de humor, com Seabra, Munhoz, Paulo Paiva, Cassiano Roda, Ricardo Dutra, Brenda Chilson, Jal, Moretti, Nicoletti, Javê e Louis Chilson. Há um artigo meu sobre as gibiterias, mostrando uma clássica foto de Ademário de Matos, no livro Universo Geek – Super-heróis.

 

Desenho Online Você já importou muita publicação bacana, como revistas da DC Comics e outros clássicos americanos, negociando a franquia Cavaleiros do Zodíaco, entre outras; mas também investiu em muitas obras nacionais, revelando ou resgatando talentos, como Flavio Colin, Julio Shimamoto, Rodolfo Zalla, Ivan Saidenberg, e outros. Ao meu ver, diante das tendências de mercado ou os resultados das publicações internacionais fica mais fácil em saber onde investir; mas, e nos casos onde tudo que se tem é a própria visão perante o trabalho do artista; o que você considera como critério fundamental para investir nisso ou naquilo?

Franco – Editorialmente sempre priorizamos as obras que atendiam o interesse do maior números de leitores. Assim escolhemos desde Batman, Superman e Jonah Hex, para lançar na Editora Sampa, que forma minhas primeiras séries licenciadas que escolhi para editar, na década de 1990. Até as últimas, Fantasma, Recruta Zero, Betty Boob e Príncipe Valente, que saíram pela Kalaco, em 2011.  Desde então passei a publicar só quadrinhos brasileiros, que, assim como os anteriores usei como critério, o meu gosto pessoal pelas obras. Ou me envolver com um gênero que sempre gostei de ler. como o terror. Motivo pelo qual publiquei a Noiva Zumbi e Zumbis e Criaturas das Trevas, este último, um sucesso comercial, graças a Deus. Ou ainda Zodiako, de Jayme Cortez, que é uma obra de roteiro crítico muito original e apresenta uma revolução gráfica ainda desconhecida e preterida até mesmo pelos profissionais do ramo. Que ficam espantados e de boca aberta, quando vêm nosso álbum, que comemorou os 30 anos do super-herói azul brasileiro, que foi criado muito antes do Dr. Manhatam, que ganhou o HQ Mix de 2015.  Enfim, meus critérios fundamentais para escolher o que edito são esses dois. Atender a preferência do público, para obras comerciais. E meu gosto pessoal, para as desconhecidas.

 

Desenho Online – Sabemos que sua carreira é vasta, seja trabalhando para diversas editoras ou em produções independentes; por isso gostaríamos de saber… Considerando desde o início da sua experiência profissional, quais foram as principais diferenças mercadológicas que observou durante esse tempo?

Franco – Há 40 anos, quando comecei os quadrinhos eram um produto popular. Para a grande massa. Foi enfrentando a concorrência de outras mídias e teve seu público restrito. Também, no passado era voltado para crianças e adolescentes. Hoje existe uma quantidade imensa de gêneros, autores e títulos. Não temos mais grandes tiragens. Mas temos um número infinito de novos trabalhos. Com o HQMix listando um número recorde de lançamentos em 2015. Também hoje há uma imensa quantidade de mulheres realizando HQs. No passado elas nem mesmo liam. Eram raras. Quando comecei tinha só a Ciça, fazendo o Pato. E com a gente, do grupo da Livraria Gibi, a Brenda, com suas tiras e paródias. Hoje há os quadrinhos da internet, no Instagram,no Facebook, nos grafites. Adquiriu status de arte e respeito de literatura. Quando eu era criança, nos anos 60, o gibi era perseguido. Proibido por pais, professores e padres. Hoje é usado em sala de aula e é respeitado como mídia. Mas é uma arte jovem. Foi popularizada faz pouco mais de 100 anos.

 

 

Desenho Online – Você e Carlos Mann apostaram muito nos quadrinhos, com a Opera Graphica, uma editora que acrescentou muito às HQs nacionais, mas que mesmo depois de 10 anos e no auge resolveram encerrar as atividades, surpreendendo a todos que a acompanhavam. Uma decisão como essa, que envolve um empreendimento tão divulgado, ainda que pensada e acordada, gera muitas críticas e comentários. A questão é, como você reagiu a essa pressão externa?

Franco – Encerramos a Opera Graphica porque tínhamos outros objetivos. Também foi em um momento em que o licenciamento de obras dos EUA, se fechou para uma só empresa. Que, naturalmente, soube aproveitar as picadas que havíamos empreendido, com nosso bandeirantismo gráfico. Continuamos publicando os nacionais de outra maneira. Mas voltei com o selo, por ser histórico e nos trazer boas lembranças. A pressão externa veio do mercado. Pois como nós interrompemos nossos lançamentos em 2010, outras editoras bacanas, também pararam. Ocorreu um ajustamento de mercado. Pois o perfil do público mudou. Novas editoras surgiram depois. A evolução é constante.

 

Desenho Online – Quais são as suas influências artísticas?

Franco – Comecei copiando desenhos de super-heróis. Depois, quando surgiu a oportunidade de publicar no jornal estudantil, descobri Henfil e Ziraldo, de O Pasquim. Busquei um mix, entre os dois. Ainda vejo tal mistura em meus desenhos de humor até hoje. Estudei muitos roteiros de tiras de aventuras americanas, como Agente Secreto, de Al Williamson e Steve Roper, de Allen Saunders. Mas foi estudando os roteiros do brasileiro Ruy Peroti, para os gibis do Pererê, da Editora Abril, que aprendi a escrever histórias. Depois mergulhei nos roteiros de Bud Lewis, e Bruce Jones, da Kripta. Copiando muitos desenhos de Neal Adams e principalmente Joe Kubert, para as obras realistas. Mas não tenho dúvidas que minhas maiores influências tanto na escrita quanto no desenho, estão na convivência e ter tido o privilégio de acompanhar ao pé da prancheta os colegas Seabra, Josmar Fevereiro, Vilachã, o genial Novaes, Jayme Cortez, Gustavo Machado, Watson Portela, Itamar, Nicolielo, Bonini, Claudio Seto, o mestre Arthur Garcia, Laerte, Paulo Caruso, Rodolfo Zalla e o inesquecível Colonnese. Na escrita compartilhar tarefas com Seabra, Ataíde Braz, Ronaldo Antonelli, Julio Emilio Braz, Jorge Fisher, Carlos Magno e Wladyr Nader foi também uma boa forja. Sem esquecer do mestre em edição Tinho Mendes. Das artes gráficas, Carlos Rodrigues. E da narrativa de maior naturalidade e objetividade, o insubstituível e insuperável Ota.

 

Desenho Online – Dia 12 de novembro, você e mais 20 artistas estarão lançando a coleção “Sketchbook Custom”, pela Editora Criativo. Gostaríamos que falasse mais sobre esse projeto.

Franco – Este é o projeto que vai revolucionar o mercado editorial de livros de arte. Vai popularizar a apreciação de portfólios. Vai permitir que o fã de desenho conheça e aprecie com mais profundidade a gênese de seus artistas preferidos. Vai tornar possível que muitos publiquem. Vai, com certeza ocorrer o antes e depois do Sketchbook Custom. Tenho fé que, como tudo inventado por Carlos Rodrigues, essa também será uma iniciativa a fazer história.

 

 

Desenho Online – Se fosse para sintetizar Franco de Rosa em três palavras, o que diria? (Só não vale o seu nome e pseudônimo, hein!)

Franco – Um desenhista escritor.

 

 

Desenho Online – Como tem sido seu retorno como pesquisador e editor independente para o mercado editorial?

Franco – Como o enredo daquele filme que nunca foi feito e todos conhecem, A Volta dos Que Não Foram. Eu nunca, desde que comecei a fazer fanzines em 1971 (pois é já completei 55 anos de estrada) – deixei de pesquisar, escrever artigos e editar independentemente.

 

Desenho Online – Dentre todas as suas atividades profissionais que exerceu e as publicações que atuou, provavelmente gostou de trabalhar mais em algumas, seja trabalhando para as editoras ou em publicações independentes. Por isso gostaríamos de saber, quais de suas experiências profissionais que considera serem as mais especiais?

Franco – Gostei de ser chargista, cartunista, ilustrador, tirista, vinhetista e jornalista para a imprensa diária mais do que tudo. Porque no jornal você resolve tudo no dia. Fiz centenas de trabalhos bacanas que precisaram de semanas pare ficarem concluídos. Porém, as obras que mais gosto são os quadrinhos eróticos que fiz para a Grafipar. Não só os que desenhei, mas também os que só escrevi.

 

Desenho Online – Que conselho poderia deixar para os jovens desenhistas que pretendem publicar suas HQ’s no mercado, ou mesmo trabalhar com ilustração?

Franco – Estudem. Pesquisem. Exercitem. Usem modelo vivo. Elejam um mestre, ou mestre. Absorvendo seus exemplos. O tempo os farão originais. Leiam muito. Não só quadrinhos. Conheçam diferentes técnicas. Não tenham medo de prazos. Faça coisas para você. Não se critique demais. Peça opinião de amigos e inimigos. Confie nos editores profissionais. Mais vale um Ota exigente que 1000 likes.

 

 

Desenho Online – Gostaria de agradecer pela oportunidade e pela entrevista. Muito obrigado!

Franco – Eu que agradeço, ter a possibilidade de falar com o seu público e poder lembrar que o quadrinho brasileiro superou muitas barreiras, com muitos artistas presentes em todo o planeta nos gibis de super-heróis, e na prateleira dos fãs mais exigentes, que são os daqui da terrinha, que sabe valorizar a obra independente. Agradeço a paciência, com este escriba tagarela.

 

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