Ontem se comemorou no Brasil os 27 anos da estréia de “O Fantástico Jaspion”, o tokusatsu japonês que marcou a infância de muitos brasileiros. E para aproveitar essa grande data, resolvi mostrar meu ponto de vista em relação ao tokusatsu; mas, é certo que vai fazer mais sentido para quem foi um jovem fã de Jaspion, entre as décadas de 80 e 90. Para compreender melhor a leitura deste post, peço que antes você assista o vídeo a seguir até o fim…
Após ter assistido, cada um poderá reagir de diferentes formas, sendo que o mais comum é que alguns se emocionem, chorem, arrepiem, sintam saudade ou mesmo recordem dos bons momentos vividos nessa época. Alguns chamam essa reação de “saudade verdadeira”, sinal de que algo especial foi estimulado em tal época e que gerou um grande impacto, admiração, podendo inclusive deixar marcas para o resto da vida. Convenhamos que não é qualquer coisa que nos provocam os mesmos efeitos. É aí que entra a grande questão, por que Jaspion foi tão marcante?
Inicialmente é bom pontuar alguns fatos. Veja, Jaspion fez mais sucesso no Brasil do que no Japão; mas, isso se deu justamente porque aqui ele era uma novidade, diferentemente dos japoneses, que na época já tinham se vislumbrado com as três versões anteriores da franquia “Metal Hero” (Gyaban, Sharivan e Shaider); sendo assim, o novo herói de armadura já não era uma novidade por lá. Já no Brasil, ele fez tanto sucesso que deixava a novela da rede Globo em segundo lugar na audiência, mesmo em horário nobre. De qualquer modo, podemos dizer que de forma geral, este modelo de seriado “Metal Hero”, foi um sucesso nos países em que foi transmitido, devido há algumas características chaves, que resultaram inclusive em novas versões de heróis da franquia.
Podemos perceber que há algo em comum entre estas séries e que as fizeram ganhar o coração da garotada, como foi principalmente o caso de Jaspion. Veja que elas são cheias de ação, luta, investigação, aventura, personagens com armaduras, e, principalmente, por transmitirem uma mensagem do bem através dos heróis. São características extremamente ligadas a juventude, período em que as pessoas estão mais propensas a lutarem pelos seus ideais, pelas mudanças. Naquela época as crianças eram mais inocentes do que hoje, com conceitos mais preservados sobre a justiça, o que me faz acreditar que por isso elas talvez tenham se identificado com a mensagem do seriado; sem contar que nesse período estes seriados ainda eram novidade. Talvez seja por estes motivos que hoje essas produções não resultem nos mesmos efeitos de antes e até acho que a facilidade e a velocidade da informação retira toda aquela expectativa que tínhamos ao aguardar o momento sagrado do dia, reservado a assistir o seriado do Jaspion; já hoje se você quiser assistir uma série, é só procurar, baixar e assistir, antes mesmo de chegar o seriado no seu país.
No que se refere aos aspectos técnicos, podemos dizer que para a época, os efeitos especiais utilizados, mesmo com algumas limitações causaram um grande impacto nos fãs. Seja usando maquetes, bonecos e explosivos, tudo parecia até mais real que muita computação gráfica dos tempos atuais. Obter tais resultados com poucos recursos, mostrou que a equipe da Toei (produtora da série) tinha muita criatividade e bons referenciais. Lembro-me de uma cena do episódio #31 em que Daileon lutava contra o monstro Destrus, no fundo do oceano japonês, nela Daileon segura o mostro e pula para fora do oceano, momento em que se pode facilmente perceber a água voltando para perto dos dois ao invés de espirrar para fora; na verdade a equipe gravou os dois caindo e exibiu a cena de trás para frente, ou seja, mesmo com poucos recursos eles conseguiram uma solução criativa.
Haviam também alguns momentos bem curiosos para quem assistia a série. São eles:
- Muitos de nós ficávamos extasiados quando Jaspion invocava o gigante guerreiro Daileon para combater os monstros, momento que sabíamos que a “treta” era séria. Muitos moleques também gritavam juntos “Daileon!”.
- A galerinha tremia as pernas quando aparecia Satan Goss.
- Muita gente esperou com gosto pela morte de Satan Goss, que ocorreu no último episódio.
- Muitos morriam de medo da bruxa galactica Kilza.
- A trilha sonora de Daileon era considerada épica (até arrepiava).
Conclusão
Jaspion trouxe de volta o mito do herói através de uma roupagem moderna; porém, com o mesmo princípio, lutar contra as forças do mal para prevalecer o bem. Por mais que isso possa soar clichê para alguns, devemos admitir que essa luta é natural e necessária, um princípio atemporal que nos encanta e que sempre nos moverá para seguir em frente; afinal, faz parte da natureza do ser humano. Seja Hércules ou Jaspion, real ou fictício, o fato é que estas figuras serão sempre inspiração para nós; pois, estimulam aquela pequena chama do herói que habita em cada um de nós.
Mais do que considerarmos a aparência, é bom destacar que o que define um herói não é o nome ou a forma com que aparecem, e sim os valores que os levaram aos mais impressionantes feitos; isso sem dúvida estimula nossa consciência a mover-se de lugar.
Esse poder por trás do personagem, por trás da história, é a mensagem que nós artistas também podemos passar através do nosso trabalho. Assim como no seriado Jaspion, nossos desenhos e histórias tem mais chances de perdurarem no tempo, se de fato transmitirmos uma boa mensagem. Do contrário serão no máximo modinhas passageiras. O poder por trás do mito, são as ideias atemporais que sempre se repetem; o mito do herói é apenas um deles. Para compreender melhor o que quero dizer, sugiro inclusive que você assista o DVD ou leia o livro “O poder do Mito”, de Joseph Campbell.
Então é isso galera, espero que tenham gostado deste post. Até mais!
3 comentários sobre “JASPION, o poder por trás de um mito”
como eu desenha o jaspion
Excelente análise… estive lendo o livro “Changeman, Jaspion, Jiraiya e Cia”,do autor João Lobato e cofesso que não consegui chegar ao fim, estou até agora tentando entender o porquê o autor escreveu um livro com o suposto objetivo de desvendar a atração do público pelo gênero e não soube encontrar uma única qualidade nas séries, e sequer entender o motivo que fez de Jaspion um mito, e das outras um sucesso.
A sua análise conseguiu em poucas palavras explicar um fenômeno.
Eu só gostaria de reforçar sua análise, discordando mais uma vez do livro de João Lobato, que se existia alguns defeitos visuais ou de efeitos especiais é absolutamente perdoável, seria impossível para um seriado manter um padrão de muitos filmes ou séries americanas de sucesso que para entregar 90 ou 100 minutos de história tinham um orçamento incrivelmente maior. As séries de tokusatsu normalmente tinham entre 18 e 25 minutos por episódio, ao longo de 40, 50 ou 60 episódios, é como se a cada 3 episódios os japoneses tivessem que entregar um filme de sucesso.
Rebatendo mais uma injustiça presente no livro, sobre os monstrihos desajeitados (Miya por exemplo), ou diálogos infantis, parece que o autor João Lobato não conseguiu entender bem qual o público alvo do gênero…
Parabéns Mateus, pelas postagens sempre inteligentes e pertinentes.
Obrigado Edson! 🙂
Pelo que disse este autor pegou pesado com as séries. Poxa, realmente os efeitos não eram os melhores, mas, como você bem mencionou, para a época, tempo e orçamento, eles conseguiram até fazer uma proeza, porque o resultado final é incrível. Naquela época (apesar de menino), eu não via defeito e nada que deixasse a desejar, pois parecia tudo muito realista, sinal de que a TOEI consegui fazer muito com pouco.
Com relação aos diálogos, dá mesmo para ver que era para o público alvo, no caso infantil; mas, eu também vejo que grande parte desse jeito mais singelo acabou saindo do gosto popular, porque as pessoas atualmente (principalmente os brasileiros), mudaram de mentalidade, devido a diversos fatores que os levaram a associar que o puro e singelo sejam meramente coisa de pessoa ingênua, sendo que na verdade é nada mais que uma forma saudável de se relacionar com as pessoas. Você pode ver que hoje em dia muita gente considera que ser bom é ser ingênuo, sendo que na verdade é o contrário.
Então é isso cara, fico feliz que você esteja gostando de minhas postagens. Até mais!