Nesta entrevista Cassaro nos fala do início da carreira, como foram os projetos que participou e dos que ainda estão por vir. Confira!
Marcelo Cassaro é um respeitado e premiado profissional, seja como roteirista, escritor e desenhista. É muito conhecido por ter desenvolvido jogos de RPG, destacando-se com o sistema 3D&T e por ser o co-criador do cenário de Tormenta. Escreveu e roteirizou histórias de sucesso como Holy Avenger, Victoria e Lua dos dragões. Foi desenhista dos quadrinhos “Os Trapalhões”, “Street Fighter”, e comandou gibis de diversas séries da TV japonesa, como Jaspion, Changeman e derivados. Trabalhou na grande Editora Abril Jovem, Editora Escala e Trama Editora onde criou a Revista Dragão Brasil, da qual foi editor por mais de dez anos. Atualmente trabalha nos Estúdios Maurício de Souza como roteirista da Turma da Mônica Jovem.
Desenho Online – Nome completo, idade, hobby e ocupações.
Cassaro – Marcelo Cassaro (é só isso mesmo!), 42 anos, nenhum outro hobby além de desenho e games, atualmente ocupado como roteirista, desenhista e editor freelancer.
Desenho Online – Quando surgiu esse interesse pelos quadrinhos?
Cassaro – Não me lembro de uma época em que eu não gostasse de quadrinhos e desenhos animados. Desde criança isso foi o que eu sempre quis fazer. Mais tarde passei a escrever também, mas nunca me imaginei trabalhando com qualquer outra coisa que não envolva contar histórias.
Desenho Online – Você tem saudade da época em que trabalhava para a editora Abril Jovem, onde escrevia e desenhava para quadrinhos como “Os Trapalhões” e os diversos tokusatsu japoneses?
Cassaro – É sempre um privilégio trabalhar com o que se gosta. Aqueles tempos foram ainda mais especiais porque eu não fazia apenas quadrinhos — fazia quadrinhos sobre heróis japoneses!
E ainda, havia a revista Aventuras dos Trapalhões, onde se podia pegar qualquer filme ou série e transformar em sátira. Era normal sair do cinema já pensando em adaptar o filme para sua “versão Trapalhões”.
Desenho Online – Você tem mais inclinação para desenhar ou escrever?
Cassaro – Depende do tipo de trabalho, do tema. Posso escrever alguma coisa mais dramática, mas meu traço cartoon-mangá não acompanha. Ao mesmo tempo, tenho dificuldade para escrever textos engraçados que não tenham ligação com quadrinhos ou outro apoio visual.
Desenho Online – Qual foi seu primeiro trabalho profissional com quadrinhos?
Cassaro – Meu primeiro trabalho publicado foi em 1985. Eu desenhava o Diarinho, suplemento dominical infantil do Diário do Grande ABC, que incluía quadrinhos.
Desenho Online – Como tem sido a experiência com os roteiros do Best-seller dos quadrinhos brasileiro, a Turma da Mônica Jovem?
Cassaro – Minhas histórias são mais focadas em aventura, fantasia e ficção — e são minoria. Para histórias de dia-a-dia, ou voltadas para público feminino, eu apenas ajudo a desenvolver os roteiros da Petra Leão.
Muitos leitores queriam que a TMJ fosse exatamente como os mangás japoneses — com violência, sexo e tal. Mas mangás japoneses são focados para este ou aquele público: meninos, meninas, jovens masculinos, jovens femininas, homens adultos, mulheres adultas. Você pode ter temas fortes em mangás para público maduro — mas TMJ é para toda a família. Crianças, jovens, adultos e idosos, de ambos os sexos, estão lendo. As vendas ultrapassam qualquer revista de super-heróis, aqui e nos EUA. Criar histórias para um público tão vasto é sempre um desafio.
É também uma oportunidade sem igual para fazer coisas boas, para informar, educar, orientar. Já tivemos histórias sobre bullying, trollagem, bulimia, preservação ambiental, adoção de animais, problemas de relacionamentos. Pessoas podem ter vidas melhores, mais felizes, com o que aprendem ali. Como próprio Mauricio costuma nos dizer, TMJ precisa de “histórias que mudam destinos”.
Tocar essa revista é uma responsabilidade imensa, em uma escala muito além do que muitos de nós estamos acostumados.
Desenho Online – Sabemos que você possui um projeto com Erica Horita, chamado Hero Party. Quando e como surgiu essa idéia?
Cassaro – A história nasceu durante minha primeira viagem ao Japão, na virada de 2008-2009. Fiquei hospedado com a Horita, que morava lá na época. Escrevi esse roteiro lá, porque ela pensava em participar de eventos e concursos. (E porque eu não perco uma chance para ver um roteiro meu no traço de uma desenhista fantástica!)
Mais tarde ela se casou e mudou para os Estados Unidos. A história tinha ficado esquecida até agora, quando ela se entusiasmou e voltou a desenhar.
Roteiro: Marcelo Cassaro / Desenhos: Erica Horita
Desenho Online – O que os leitores podem esperar deste novo projeto?
Cassaro – É algo sem ligação com Tormenta ou Holy Avenger, para variar um pouco. Uma brincadeira com os arquétipos básicos dos grupos de RPG, onde um grupo de heróis sem uma composição equilibrada de aventureiros fica em desvantagem.
No mundo de Hero Party, essa formação foi transformada em lei: as entradas conhecidas das masmorras são lacradas e vigiadas, e apenas equipes certificadas pela coroa podem entrar. Para ser certificado — ou seja, ser um Hero Party —, um grupo precisa ter membros em todos os papéis principais: Defender, Healer, Striker e Wizard.
Desenho Online – Por que resolveram utilizar o Kickstarter neste projeto? De quem foi a idéia? Por que preferiram lançar este projeto nos EUA?
Cassaro – Ideia da Erica Horita. Ela mora nos EUA, e o Kickstarter aceita apenas projetos de residentes naquele país. Ela também tem disponibilidade para participar dos grandes eventos (Hero Party terá estando na New York Comic Con).
Como a maior parte das contribuições veio do exterior, a decisão dela foi acertada.
Desenho Online – Além de Hero Party, existe algum outro projeto em mente?
Cassaro – Em mente, muitos. Ter ideias é fácil, qualquer um faz isso. Executar, tornar real, é a parte complicada.
No momento, além de Hero Party, estou também escrevendo o mangá 20Deuses (este sim, ligado a Tormenta) com o desenhista Rafael François, quem tem um traço incrível. Vem sendo publicada dentro da revista DragonSlayer, mas estamos pensando em outras formas de distribuição.
Desenho Online – Como você vê atualmente o mercado nacional de quadrinhos para os novos talentos?
Cassaro – Essa pergunta sempre tem duas respostas.
Publicar quadrinhos é muito mais fácil hoje. Você não precisa de uma editora. Existe a Internet. Existem gráficas expressas. Qualquer um pode levar sua revista a público com baixo custo.
Publicar quadrinhos profissionalmente — ou seja, ganhar a vida com isso — ainda é difícil como sempre foi. Não temos muitas editoras investindo em produção nacional, não temos empregadores dispostos a pagar você para fazer isso. Mas, novamente, existe a Internet. Você pode produzir para o exterior (antes da TMJ, eu mesmo escrevi quadrinhos para a Jordânia, por exemplo).
Enfim, achar espaço nesse mercado não depende tanto de novos ou velhos talentos. Depende de novas ideias, novas abordagens, novas tecnologias.
Desenho Online – Em quais artistas você se inspira?
Cassaro – O primeiro foi o próprio Mauricio de Sousa. Mais tarde, Giorgio Cavazzano (HQs Disney italianas), John Byrne e Adam Warren.
Hoje, venho prestando atenção em certas figuraças no deviantART.
Desenho Online – Nossos visitantes são desenhistas e muitos deles aprendizes de quadrinistas. Quais dicas você daria para essa turma?
Cassaro – Trabalhar com quadrinhos é duro. É uma profissão instável, desgastante, força você a abrir mão de muitas outras coisas — Charles Schultz disse qualquer coisa sobre os quadrinhos “sugarem sua vida”. Só quer trabalhar com quadrinhos quem ama quadrinhos, quem não seria feliz fazendo outra coisa. Eu sou uma dessas pessoas — o que é bom, mas às vezes também pode ser ruim.
Então, tenha certeza de sua escolha.
5 comentários sobre “Marcelo Cassaro em entrevista exclusiva ao blog desenhoonline.com”
Não importa se é difícil viver de quadrinhos no Brasil pois pra mim não importa ser rica ou coisa parecida. Tendo um teto sobre minha cabeça, comida na mesa, roupa no corpo, alegria no coração, um papel, um lápis uma historia e um leitor eu serei feliz como ninguém.
Marcelo Cassaro: mais um que nos inspira.
Tentei a anos ser desenhista profissional, mas empaquei e acabei aposentando o lápis e os papeis. Acho dificilmente complicado viver só de desenho no Brasil, principalmente pra quem tem que pagar as contas de casa, e ainda nao pegou um job de respeito. Pra muito artista o desenho torna-se puro hobby/valvula de escape, ou pra alguns afortunados, um caixa-dois pra complementar o salario fixo.
Mas como o Cassaro disse, estamos na era do 99,9% digital, e hoje dá pra focar a ilustração para cinema, propaganda e até games. Creio que o caminho menos impossivel hoje seja seguir para as midias digitais, migrar o desenho 2d digital focado pra animações e video, e paralelo a isso, dominar softwares de animação/modelagem em 3d. Enquanto um artista 2d leva mais de 10 anos pra começar a ganhar dinheiro com sua mao-de-obra, um artista 3d/editor de video em 2 anos entra pro mercado ganhando muito bem.
nossa ki legal gostei muito dele… e como Cassaro mesmo disse eu sou uma dessa pessoas q n se ve em outra profissão nó no mangá….tão kawaii…
Muito Bom =D
Muito boa a entrevista! 😀
Cim certeza uma das pessoas mais inspiradoras pra quem gosta de desenhar, daqui do Brasil! 😀
Ansioso pra ler Hero Party… :3