Crônicas de um desenhista: Meu “Calcanhar de Aquiles”
O curioso da vida é que muitas coisas só fazem sentido pra gente, depois de muito tempo, quando adquirimos mais experiência e começamos a refletir sobre tudo aquilo que vivemos. Foi fazendo uma reflexão dessas há alguns anos atrás, que comecei a recordar sobre a minha experiência com o desenho…
Logo na escola, especificamente no ensino fundamental, havia reparado que a minha popularidade tinha aumentado pelo fato de saber desenhar razoavelmente bem, a triste realidade era saber que isso só acontecia quando o dever de casa ou trabalho de escola envolvia o desenho, momento em que meus colegas vinham correndo me pedir uma ajuda ou então para que fizesse parte da equipe deles; era só a professora lançar a missão e a galera logo me olhava. De qualquer maneira isso me fez ver que eu fazia algo que despertava o interesse das pessoas, além de me deixar muito bem internamente pela satisfação de dedicar um tempo para imitar a natureza através de sombras e traços, uma coisa simples, mas que era extremamente gratificante pra mim. Nessa época eu fazia apenas desenhos de observação, mas não criava nada; pois a minha criatividade era praticamente zero, sem contar que meu traço era rabiscado e pesado. Logo depois, no início da adolescência, comecei a notar que esse interesse pelo desenho havia aumentado, queria sair daquele amadorismo, o que me forçou de alguma maneira a querer saber mais.
Lembro que muita das vezes quando eu e meus amigos voltávamos da escola, passávamos em frente a uma banca de revista para conferir as novidades, mas isso só acontecia pelo interesse deles, já que eu não tinha hábito de comprar revistas. Nessas várias passagens pela banca, comecei a me interessar pelas revistas de desenho, aqueles desenhos da capa eram muito atrativos e sempre que os via, ficava super motivado em desenhar para futuramente chegar naquele nível. No início eu ficava “namorando” as capas das revistas; mas logo depois resolvi adquirir algumas para aprender mais. Foi importante porque a partir delas conheci estilos legais, adquiri algumas técnicas e aprendi novos métodos de desenho; mas mesmo assim, vi que faltava algo a mais, que estava para além da informação, só fui descobrir o que era depois de uma nova experiência.
Apesar de ter me determinado a dedicar ao desenho, tinha uma tendência muito grande em dispersar com outras idéias que não tinham nada a ver com que eu havia proposto a estudar; mesmo pegando revistas e livros de desenho que continham bons métodos de desenho, ainda tinha muita dificuldade em manter foco nos exercícios e no cumprimento dos mesmos. Quando não era a TV ligada, era um mangá do lado que me dispersava, mas existia muitas outras coisas que me roubavam a atenção. Eu odiava quando percebia esta dificuldade, mas era uma tendência tão grande que muitas vezes eu me entregava a ela, achando que aquilo fazia parte; esse mau hábito já tinha se instalado.
Não era falta de ouvir dos mais velhos que era importante ter foco, a dificuldade mesmo era escutar, dar atenção ao que eles estavam falando, isso era o mínimo que eu poderia fazer para pelo menos ter a chance de perceber o problema que eu tinha me metido e corrigi-lo. De qualquer maneira, chegou um momento em que eu vi o problema; principalmente os males que ele trouxe; a correção e o controle sobre ele foram necessárias, e só a partir daí comecei a identificar coisas que minavam a minha energia; desperdício desnecessário que me fez perder o foco nas atividades que fazia. Fui percebendo aos poucos que este mau refletia também em outras atividades que realizava.
Acho que toda pessoa possui uma grande dificuldade que pode acompanhá-la durante toda uma vida, e só ela é responsável por identificar aquilo que a prejudica; os amigos, parentes ou colegas podem apenas induzir a pessoa a vê-ela; de qualquer modo, a solução mesmo só começa a aparecer quando a gente observa com mais atenção os nossos comportamentos. Os maus hábitos instalam sutilmente sobre nós, e enquanto não os vemos e nos corrigimos, somos consumidos por eles.
Mateus Machado
6 comentários sobre “Meu “Calcanhar de Aquiles””
Olá mateus, você poderia me indicar algumas revistas e publicações vendidas em bancas de jornal sobre desenho artístico para iniciantes? Sou totalmente crua e gostaria de começar dessa forma antes de me matricular em algum curso.
Poderia enviar para o meu e-mail? Ficaria grata pelas dicas.
Sds. Rosana.
Olá Rosana. Eu poderia lhe indicar o próprio curso do blog. Conhece? Só clicar no menu superior da nossa página “Curso de desenho”. Ok?
Luisa, concordo plenamente com você, ser um desenhista (não que eu me considera uma mais…) é bem difícil em algumas ocasiões, ser um desenhista tem suas qualidades e as desvantagens, suas desvantagens são essas, de quando você faz algo razoavelmente bonito, e alguém chega perto e diz, “NOSSA ME ENSINA A FAZER UM DESSES?! QUE LINDO!!” e você perde toda a concentração no traço do desenho e as vezes acaba até borrando a folha, isso sinceramente é CHATO DEMAIS! As qualidades de ser um desenhista são, bom, depende do ponto do seu ponto de vista né.
Algumas pessoas acham que ser um desenhista é só ter o “dom” de desenhar e pronto, mais para desenhar você precisa se esforçar, as vezes vejo desenhos que pessoas do 8°ano fizeram e olho o da minha irmã de 7 anos e penso “Nossa, as pessoas não se dedicam mesmo aos desenhos, o da minha irmã é melhor que o deles, nossa…”
Bom dia/tarde/noite a todos! Mariana Souza
No meu caso eu ainda sou estudante e eu não sei copiar quase nada. Quando estou desenhando algo, a inspiração sempre acaba vindo do x da equação de matemática bem no meio da explicação da matéria. E o pior é quando vêm alguém e fala “AAAAAAAAAAAAAAAAAIIIIIIIIII QUE LINDO! ME ENSINA?” aí eu não consigo me aguentar e sempre acabo soltando um ” Bom, agora que você tirou a minha atenção do desenho, eu posso te ensinar a ficar quieta e não incomodar os outros quando estão desenhando”… É um inferno!
Passei por essa fase tambem! principalmente na popularidade da escola ahaha lembro me que eu fui o desenhista da minha sala e até de outras salas… era dificil dizer nao..ehhehe
Muito legal!