O que há por trás dos desenhos?

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Você já parou para analisar, do que realmente compõe um desenho? Ou melhor, o que há por trás dele? Pois é, já faz algum tempo que venho refletindo sobre esta questão, o que me motivou a escrever esta postagem e a compartilhar meu pensamento com você. Vou começar falando de coisas mais simples até chegar no objetivo em questão desta postagem. Vamos lá!

 

O que é um desenho?

Buscando sua etimologia, veremos que o termo vem do Latim DESIGNARE (marcar, apontar, traçar), formado por “DE” (fora) + “SIGNARE” (marcar, apontar); de SIGNUM, (sinal, marca). É a representação pictórica de uma imagem.

 

Do que é formado?

O desenho é formado por cor e forma, ambos possuem duas naturezas; uma “abstrata” e outra “concreta“. “Concreta” quando desenhamos uma figura sobre um plano, e “abstrata” por sua ideia existir no mundo mental.

 

O que o desenho representa?

Todo desenho pode representar uma forma, ideia; seja do reino mineral, vegetal, animal, humano, ou mesmo do que chamamos a grosso modo de fictício, abstrato ou imaginário, criados ou não por nossas mentes; tais como: fadas, duendes, deuses, personagens, etc.

 

Quando a forma do desenho ganha outras interpretações

Podemos desenhar infinitas coisas, que podem representar desde uma simples forma geométrica, até um desenho hiper-realista de uma pessoa. Esse último é composto por inúmeras formas e cores agrupadas, que interpretados em sua totalidade, nos parece apenas uma única coisa retratada ou mesmo um  pequeno grupo de coisas. O interessante é que o ponto de vista pode alterar consideravelmente o que diferentes observadores interpretam ao avistar um desenho; principalmente se o desenhista representar a composição com elementos que induzam a subjetividade, ou mesmo usar os artifícios da ilusão de ótica. Em outros casos a inaptidão para o desenho poderá acarretar em um desenho pobre, que não represente bem o objeto ao qual foi baseado e assim não cumprir bem a sua função; como é o caso de um desenho de criança.

Outro fator a ser considerado, é a interpretação por diferentes observadores ou mesmo por uma limitação técnica. Veja que, uma linha vista a média distância, pode parecer-nos simplesmente a um traço; mas não é que uma linha é formada por sucessivos pontos? Se usarmos também como exemplo o nosso planeta; podemos dizer que ele visto do solo, apresenta um relevo irregular, todo complexo, cheio de formas das mais variadas possíveis; porém, vendo-o do espaço, não passa de uma imensa esfera.

 

Desagrupando a imagem para comprender

Quando alguém resolve desenhar algo (seja profissional ou amador), ele não pensa inicialmente em todas as formas e cores que compõe o objeto; mas sim na imagem final do objeto. Se por exemplo esta pessoa pensar em desenhar uma bola de futebol, ela só irá buscar as características que compõe a bola quando começar a desenhar, e essa representação fluirá conforme a  habilidade que esta pessoa possui de desenho, considerando é claro a origem de referência desta bola, que poderá ser ou de uma observação (de uma figura impressa ou real), ou mesmo de memória.

Note o seguinte, a bola de futebol poderá ser recriada em diferentes formas e estilos, mas sempre se baseará em formas geométricas, sejam elas  planas e (ou) espaciais. Neste exemplo abaixo, a bola possui não só uma forma principal esférica (a esfera), como também utiliza diversos pentágonos quanto hexágonos em sua superfície. Se o desenhista pretender desenhá-la posteriormente, memorizar esta composição será indispensável.

Bola

Mas não é verdade que o pentágono, o hexágono e a esfera já sejam formas prontas, já existentes? Isso não podemos inventar; pois, são tão velhos quanto o universo que conhecemos. A própria arquitetura do universo nos prova isso, através das infinitas criações da natureza.

Assim temos as figuras geométricas planas e espaciais; assunto muito abordado por Platão, Pitágoras, entre outros.

Figuras geométricas planas e espaciais

 

Os desenhos que fazemos são criações nossas?

Será mesmo? Acho que pela nossa pequenez, fica difícil falar que fomos nós os primeiros criadores; afinal, quem garante que sua “criação” já não tenha existido? O universo é infinito, e nossa história na terra é muitíssima jovem, diante da imensidão. As formas são a princípio, tão antigas quanto ele. Diante do universo, somos menos que o cocô do mosquito da bosta do cavalo (risos).

Universo

Se estudarmos as referências passadas (de nosso próprio mundo), veremos que muitas ideias são parecidas com as nossas (ou até iguais); umas são cópias conscientes, mas muitas surgem inconscientemente, é como se aspirássemos um código coletivo, principalmente através da vivencia em meio a natureza.

Platão (filósofo do século IV a. C.) acreditava em um mundo onde todas as formas e ideias já existam, o Mundo das Ideias; o que fazemos na verdade seria a sombra desse mundo, assim como a própria natureza já faz, sendo assim, nossa arte seria a sombra da sombra (pois imita a natureza). Agostinho (bispo, padre e teólogo do século IV), também defendia uma ideia parecida, dizendo que todas as ideias estavam na mente de Deus.

 

O que se agrega ao desenho para transmitir o personagem?

As diferentes imagens de uma mesma figura, é uma das coisas que nos auxilia a compreender algo; porém, se houver algo que a anima (uma psique/alma),  teremos que ler algum texto relacionado, um quadrinho, um video ou uma descrição; elementos que irão nos ajudar a ter uma noção do que realmente caracteriza a personagem. A palavra personagem deriva do latim persona, que significa máscara.

Para falarmos mais a respeito, vamos usar como exemplo a Mônica, a criação de Maurício de Souza. Num video exibido pelo UOL Mais, o Maurício descreve que sua personagem Mônica, foi baseada em sua a filha, que era brabinha, dentuça, e que arrastava um coelhinho amarelo; note que temos aí uma personalidade forte, humana e jovem. Seu desenho inicial é um cartum não muito elaborado, mas que durante sua natural evolução sofre consideráveis alterações no estilo, mantendo apenas sua sua personalidade e algumas características mais pontuais.

 Monica e sua evolucao

Note que a maioria das ideias chaves que compõe a personagem precisavam ser mantidas; afinal, é esta a identidade dela como personagem, tais como:

  • Brabinha
  • Dentuça
  • Coelho Azul (ele deixou de ser amarelo, já que o azul era uma cor mais visível nos jornais coloridos)
  • Infantil
  • Vestido vermelho
  • Pele clara
  • Gordinha
  • Forte
  • Orelhuda

Na última imagem, ela só mudou porque cresceu e ganhou um novo estilo, passando de cartum para “mangá”.

As ideias chaves são tão decisivas, que mesmo mudando drasticamente de estilo mas mantendo as ideias chaves, podemos reconhecer a identidade de um personagem. Veja por exemplo as duas versões abaixo, uma do Maurício e outra feita por Tiago Hoisel:

Versões da Monica

 

Agora, saindo da personagem Mônica, vamos falar de outras características que também são decisivas, o padrão de cor. Se você conhece os personagens de Street Fighter, vai logo identificar os personagens pelas cores organizadas por Ashley Browning:

personagens-minimalistas-street-fighter

Em resumo, podemos dizer que os desenhos são a parte mais densa de uma ideia, seja ela representante do reino mineral, vegetal, animal, humano, ou mesmo de forças, sentimentos, deuses, etc. O arquétipo que está por trás dos desenhos são a essência que perdura no tempo, aquilo que realmente caracteriza as imagens que queremos representar; porém, para nós, estas ideias são expressadas graças ao suporte do desenho, elemento indispensável que nos encanta e nos completa como artistas e nos auxilia para compreendermos as ideias.

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