O que se passa na cabeça de um desenhista?

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Você já teve curiosidade de saber como um desenhista pensa durante o processo criativo? Pois é, pode parecer óbvio para alguns, mas para outros isso é extremamente complexo ou no mínimo curioso. Mas é sobre isso que vou falar, especificamente sobre como é o meu processo e falar sobre o processo de alguns alunos que já tive.

Muitas pessoas quando veem um desenhista realizar um bom desenho, ficam muitas vezes boquiabertos, uma surpresa que lhe fazem tirar conclusões como “só pode ser o dom” por realmente não saberem explicar o que acontece, ainda que não falem nada para o desenhista. Mas o que realmente passa na cabeça do desenhista vai variar conforme a experiência de cada um e o grau de habilidade que cada um tem, e por isso irei falar um pouco de como é isso.

Sem nenhum curso, a tendência do iniciante é usar uma referência (foto ou desenho) e desenhar cada parte do que está copiando através de signos (representações) que estão em sua memória, ou seja, ele pode estar olhando algo como referência, mas sem perceber traçando aquilo que está em seu subconsciente, porém muito deficitário de informações, por isso os desenhos infantis ou de um leigo, tendem a ter um estilo muito parecido e simplista.

Mas se a ideia é criar algo, mesmo desenhando uma nuvem, árvore, carro, ou pessoa, a tendência é repetir figuras parecidas; por isso temos padrões de desenho entre diferentes pessoas, pois elas repetem o que tem de mais básico em tais representações, inclusive sem aplicar as regras de perspectiva, pois desconhecem isso. Algo curioso é que nesta questão de perspectiva, podemos citar um problema que inviabiliza a compreensão da realidade, que é o caso da criança, que não desenha, por exemplo, a parte de cima de um fogão, ou a lateral de uma casa; se atendo somente a uma vista ou face de cada figura desenhada, ou até mesmo ao traço principal. Veja que pássaros podem ser algo semelhante a uma letra “m”, porém cursiva; uma casa é feita com as formas de quadrados, retângulos e um triângulo, sem que haja preocupação com linhas retas; nuvens podem ter um contorno amorfo, etc.

Fonte da imagem: Pixabay

No caso do desenhista que está começando a levar mais a sério o estudo do desenho, como um curso ou mesmo como autodidata usando livros, os métodos que lhe são passados tendem a sobrecarregar o seu raciocínio no início porque transportam ao estudante uma interação diferente do que ele está acostumado, concomitante a uma atenção e seriedade mais apuradas.

Pode criar um desconforto no início, dado que são processos cognitivos atípicos promovidos no praticante, mas são potenciais do cérebro que na verdade vamos paulatinamente trabalhando e aprimorando. Além disso, é importante destacar que desta forma o desenhista começa a perceber que está na verdade aprendendo a ver, como bem diz a arte-educadora norte-americana Betty Edwards; até porque nossa visão já cria uma distorção e nosso cérebro decodifica, e se quisermos reproduzir uma cena, uma figura, ou objeto para outras pessoas através do desenho, temos que decodificar em parte isso e saber como levar para o papel, e consequentemente produzir os mesmo efeitos.

Fonte da imagem: Pixabay

Alguns problemas são comuns, para o iniciante ou para o desenhista de experiência mediana, como é o caso da coordenação motora, que leva certo tempo para desenvolver. Sim, a inaptidão para conseguir um traço que se almeja, gera uma série de frustrações que tendem a minar a motivação do desenhista, e isso por si só pode contribuir com a desistências de muitos desenhistas; mas com o tempo vamos entendendo que isso é um aprendizado para a vida, não é algo que você logo já ficará bom.

Apesar de variar de desenhista para desenhista, depois de uma boa experiência, aqueles processos de estudos matemáticos de proporção, tendem a ser mais intuitivos e automáticos, sobrando mais espaço de sua atenção para aperfeiçoar ideias melhores relacionadas a expressão de poses e as faces dos personagens, melhores tipos de traço, etc. Ou seja, á medida que o desenhista vai aprendendo a desenhar, ele vai penetrando na essência dos personagens e das figuras.

Mesmo sendo processos que entram no automático, o desenhista experiente, no início de um desenho, tende a olhar para o papel enxergando formas geométricas formadas pela composição; ele passa a olhar partes que estão alinhadas na horizontal ou vertical; associa objetos em conjunto; tenta ver formas que são semelhantes; observa espaços que são negativos e positivos; entre muitos outros processos.

Mas quem geralmente tem repulsa por estes processos não consegue ir muito além no desenho, até porque esta forma de ver demanda requinte, um olhar mais apurado e uma coordenação motora fina que dê conta de passar para o papel a precisão que se precisa. Aqui vamos vendo que algumas competências inatas podem interferir positivamente na sua dedicação em relação ao desenho, e até mesmo se há a predisposição para desenvolvê-las.

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