Técnicas de desenho criativas que inovaram o design de games

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O design de jogos digitais sempre foi um campo em constante evolução, moldado por avanços tecnológicos e pela imaginação sem limites de artistas e desenvolvedores. Embora a tecnologia tenha permitido a criação de mundos cada vez mais complexos e visualmente impressionantes, as técnicas de desenho criativo desempenharam um papel central na inovação do design de games. O que antes era restrito a pixel art e gráficos simples, hoje envolve uma vasta gama de abordagens artísticas que vão desde técnicas tradicionais de ilustração até o uso de inteligência artificial.

Neste post, exploraremos algumas das técnicas de desenho que mais influenciaram e continuam a inovar o design de games. Veremos como essas abordagens criativas moldaram a maneira como experimentamos jogos, e como o papel do artista de games evoluiu para se adaptar a novas tecnologias, sem perder a essência da expressão criativa.

1. Pixel Art no início da expressão artística nos games

Nos primeiros dias da indústria dos videogames, as limitações técnicas ditavam como o design gráfico dos jogos poderia ser feito. O conceito de pixel art nasceu da necessidade de representar personagens, cenários e objetos com um número limitado de pixels e cores. Embora parecesse uma limitação, muitos artistas viam isso como uma oportunidade criativa de utilizar a simplicidade para gerar impacto visual.

Jogos clássicos como Super Mario Bros., The Legend of Zelda e Pac-Man são exemplos brilhantes de como a pixel art foi usada de maneira inovadora para criar mundos vibrantes e envolventes.

Você já pensou, por exemplo, o motivo de Mario (do 8 bits) ter um bigodão e usar boné? Pois é, como o game possuía um gráfico limitado, Shigeru Miyamoto, o designer do game, utilizou estes dois elementos, como recurso técnico, para assim simplificar a cabeça do personagem e distingui-lo melhor.

O que começou como uma solução para uma limitação técnica se transformou em um estilo artístico por si só, influenciando gerações de jogos indie, como Celeste e Shovel Knight, que continuou a usar pixel art não por necessidade, mas como uma escolha estética intencional.

2. Técnicas de ilustração 2D: Do tradicional ao digital

Conforme a tecnologia avançou, as capacidades gráficas dos consoles e computadores permitiram a incorporação de ilustrações mais detalhadas nos jogos. A transição da pixel art para ilustração 2D foi um marco na evolução do design de games. Artistas podiam criar personagens e cenários com traços mais elaborados, utilizando técnicas de sombreamento, texturização e pintura digital para dar mais vida aos mundos dos jogos.

Um dos exemplos mais marcantes do uso da ilustração 2D é o jogo Rayman Origins (2011), desenvolvido pela Ubisoft. O estilo de arte desenhado à mão permitiu que o jogo tivesse uma estética única, cheia de cores vibrantes e animações fluidas que se destacaram da maioria dos títulos da época. A técnica de ilustração tradicional, combinada com as ferramentas digitais, deu aos artistas liberdade para criar visualmente jogos que pareciam autênticas obras de arte.

Outro exemplo é Cuphead (2017), que foi aclamado pela sua estética inspirada nos desenhos animados da década de 1930. Os personagens, cenários e até mesmo as animações foram desenhados à mão, quadro a quadro, em uma técnica que remete ao tradicional processo de animação de filmes antigos. Mas mais do que isso, além da técnica antiga, quiseram emular esse aspecto envelhecido nas cenas, através de ruídos e posição das camadas levemente desalinhadas, de modo que os layers simulassem um efeito variado de impressão, mesmo não sendo uma impressão.

A decisão dos artistas de usar essa abordagem foi inovadora porque recriou um estilo visual que poucos jogos haviam explorado, criando uma sensação de nostalgia e, ao mesmo tempo, oferecendo algo completamente novo e refrescante no design de jogos modernos.

3. A pintura digital e o uso de técnicas de concept art

O desenvolvimento de concept art se tornou uma prática essencial na criação de jogos, especialmente em títulos de grande escala e com universos complexos. Antes de qualquer linha de código ser escrita, artistas de concept art desenvolvem as primeiras imagens que dão forma às ideias do jogo. Essa etapa do processo é crucial para estabelecer o estilo visual, o tom e o design dos personagens e cenários.

As técnicas de pintura digital foram as principais responsáveis por transformar a maneira como esses conceitos são criados. Usando programas como Adobe Photoshop, Procreate, e Corel Painter, os artistas podem trabalhar em camadas, aplicar pinceladas digitais que imitam aquarela, óleo ou lápis, e experimentar com diferentes estilos de arte antes de decidir qual será implementado no jogo.

O impacto dessas técnicas é visível em jogos como The Witcher 3: Wild Hunt e Horizon Zero Dawn, onde os vastos cenários e personagens intricados só foram possíveis graças ao trabalho inicial de concept art digital. Essas ilustrações não apenas orientam o design visual do jogo, mas também influenciam diretamente o desenvolvimento da narrativa e do mundo do jogo.

4. Técnicas de cell shading: Uma abordagem estilizada

No início dos anos 2000, uma técnica de desenho chamada cell shading começou a ganhar popularidade no design de games. Inspirada no estilo visual de desenhos animados e quadrinhos, o cell shading utiliza cores sólidas e contornos marcados para criar um efeito que faz com que os gráficos 3D pareçam ilustrações 2D.

Um dos primeiros jogos a popularizar essa técnica foi Jet Set Radio (2000), da SEGA, que utilizava cell shading para dar ao jogo uma aparência visual única e estilizada, reminiscentes de grafite e cultura urbana. Outros jogos que seguiram esse estilo incluem The Legend of Zelda: The Wind Waker, Mario & Luigi: Brothership e Borderlands, ambos amplamente elogiados pelo seu uso criativo dessa técnica.

O cell shading representa uma abordagem inovadora porque se afasta da busca incessante por realismo, que muitas vezes domina o design de games, e aposta em um visual mais artística e estilizada, através um numero bem reduzido de cores para se criar o efeito de gradientes. Essa técnica mostra como o desenho pode ser usado para criar uma identidade visual forte e diferenciada, que muitas vezes se torna a marca registrada do jogo.

5. Design de personagens 3D: Modelagem e escultura digital

Com a chegada de consoles e PCs mais potentes, a modelagem 3D se tornou a principal técnica usada para criar personagens, cenários e objetos em jogos. No entanto, o desenho criativo ainda desempenha um papel crucial nesse processo. Antes que um personagem possa ser modelado digitalmente, ele precisa ser desenhado e esculpido virtualmente.

Ferramentas como ZBrush e Blender revolucionaram o design de personagens, permitindo que os artistas criem modelos detalhados e tridimensionais de maneira semelhante ao processo de escultura tradicional. Essas ferramentas oferecem a capacidade de esculpir digitalmente personagens, adicionando detalhes como rugas, músculos e texturas com precisão.

Um exemplo significativo é o design de personagens de God of War (2018), onde os artistas usaram essas técnicas para dar vida a figuras mitológicas, misturando realismo e elementos fantásticos. Kratos, o protagonista, foi desenhado e modelado com uma atenção meticulosa aos detalhes, criando um personagem que é tanto crível quanto icônico.

6. Técnicas criativas que imitam materiais

Ao longo dos anos, uma das abordagens mais interessantes e inovadoras no design de games é a técnica de imitar materiais tradicionais de desenho e pintura, proporcionando um visual que remete a métodos artísticos como canetinha, lápis de cor, aquarela e até traços de quadrinhos. Ao utilizar essas técnicas, os desenvolvedores conseguem criar um estilo visual único e marcante, diferenciando seus jogos no mercado e proporcionando aos jogadores uma experiência estética envolvente e nostálgica.

Super Mario World 2: Yoshi’s Island – O Charme dos Lápis de Cor

Lançado para o Super Nintendo em 1995, Super Mario World 2: Yoshi’s Island marcou uma mudança significativa na estética dos jogos da série Mario. Ao invés dos gráficos mais “limpos” e digitais de seus antecessores, Yoshi’s Island optou por uma abordagem artística que simulava desenhos feitos à mão com lápis de cor e canetinha. Essa decisão criativa resultou em um visual que parecia uma ilustração infantil viva, onde os cenários, personagens e inimigos pareciam ter sido desenhados diretamente em papel.

O uso de cores vibrantes e texturas que imitam materiais tradicionais fez com que o jogo se destacasse de outros títulos da época. O estilo único de Yoshi’s Island não só ampliou o apelo visual do jogo, mas também reforçou o tom leve e imaginativo da série Mario, alinhando-se perfeitamente com a proposta do jogo. As superfícies ásperas e as linhas soltas dão a sensação de que o mundo de Yoshi’s Island foi colorido com carinho, criando uma atmosfera aconchegante e encantadora.

Comix Zone – A Estética dos Quadrinhos em Movimento

Outro exemplo marcante de uma técnica que imita materiais tradicionais de desenho é Comix Zone, lançado para o Sega Genesis em 1995. Nesse jogo, o visual é inspirado diretamente em histórias em quadrinhos, com o protagonista, Sketch Turner, literalmente preso dentro de uma revista em quadrinhos. Cada fase do jogo é apresentada como uma página de quadrinho, e o jogador deve guiar Sketch através dos painéis, lutando contra inimigos e interagindo com elementos como se estivesse “dentro” da arte.

O que torna Comix Zone inovador é a maneira como ele emula o visual de quadrinhos tradicionais. Os fundos, personagens e efeitos são desenhados com traços grossos e sombreados que lembram a tinta e a caneta que normalmente seriam usadas em um gibi. Além disso, o jogo utiliza balões de fala e onomatopeias (como “Pow!” e “Bang!”) durante as lutas, reforçando ainda mais o efeito de que o jogador está imerso em uma história em quadrinhos viva. Essa técnica visual, raramente vista em outros jogos, fez de Comix Zone um clássico cult, admirado por sua abordagem única e estilo visual inconfundível.

O Impacto das Técnicas que Imitam Materiais

A decisão de emular materiais artísticos tradicionais em jogos muitas vezes vai além de uma simples escolha estética. Essas técnicas trazem à tona um senso de nostalgia, remetendo aos dias em que desenhávamos com lápis de cor ou líamos quadrinhos em papel. Além disso, o uso desses estilos visuais pode criar uma conexão emocional mais profunda com o jogador, transportando-o para um mundo que parece mais familiar e acessível.

Essa técnica também pode ajudar a diferenciar jogos em um mercado saturado de gráficos realistas e altamente detalhados. Ao adotar um visual que imita materiais tradicionais, os desenvolvedores conseguem criar uma identidade visual forte e única que se destaca entre os inúmeros jogos disponíveis. Títulos como Yoshi’s Island e Comix Zone são exemplos perfeitos de como essas técnicas podem criar uma experiência visual memorável, misturando o digital com o tradicional de maneira inovadora e artística.

Em tempos onde muitos jogos buscam o realismo, o uso de materiais que evocam formas de arte tradicionais é um lembrete de que os videogames não precisam imitar a realidade para criar impacto. Ao invés disso, eles podem abraçar suas raízes artísticas e oferecer algo que é, ao mesmo tempo, fantasioso e cativante, provando que a arte no design de jogos tem o poder de transcender as expectativas dos jogadores e criar experiências inesquecíveis.

7. O futuro das técnicas de desenho no design de games

À medida que a tecnologia continua a evoluir, as técnicas de desenho criativo no design de games certamente se tornarão ainda mais inovadoras. A realidade virtual (VR) e a realidade aumentada (AR) estão abrindo novos horizontes, permitindo que artistas literalmente desenhem e criem dentro dos mundos tridimensionais que estão desenvolvendo.

Fonte da Image: Wikipédia / Por DLLU

Com ferramentas como o Tilt Brush, os artistas podem desenhar em 3D no espaço virtual, manipulando formas e cores de maneiras que antes não eram possíveis. Isso está redefinindo o conceito de “desenho”, integrando-o diretamente ao design do espaço de jogo em tempo real.

O design de games é uma área onde a arte e a tecnologia se encontram de maneiras inovadoras e inesperadas. Desde os humildes dias da pixel art até as complexas técnicas de arte procedural e IA, o desenho criativo continua a ser uma força motriz que define a estética, a atmosfera e a experiência dos jogos. As técnicas mencionadas aqui representam apenas o começo de um vasto campo que continuará a evoluir e surpreender. O futuro do design de jogos está nas mãos dos artistas, e suas técnicas de desenho criativo seguirão moldando e expandindo o que é possível no mundo dos games.

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