Venho comunicar a minha desistência da Profissão Desenhista

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É com muito pesar a que venho anunciar a minha desistência da Profissão Desenhista, mesmo depois de anos de dedicação. Sei que alguns podem achar loucura de minha parte, mas infelizmente é uma decisão que não tem volta, principalmente depois de passar por alguns problemas familiares e profissionais…

Para ser sincero, toda essa desestimulação começou depois de concluir o ensino médio, quando eu disse aos meus pais que queria me profissionalizar no desenho. Por incrível que pareça, eles não me apoiaram, e ainda tiveram a audácia de dizer que eu iria passar fome vivendo de arte. Na época, eles fizeram de tudo para eu desistir, tentaram conversar e até sugeriram outra profissão: “Por que você não faz um curso de administração meu filho? Está todo mundo fazendo, sem contar que desenho não dá futuro!”; por incrível que pareça, eu me senti um mané nessa época, e quase desisti.

Depois de pegar umas manhas do desenho realista, comecei a fazer alguns desenhos sob encomenda (mesmo já tendo um emprego fixo); puxa, estava super feliz em poder ganhar dinheiro com aquilo que eu mais gostava de fazer, era indescritível o que eu estava sentindo naquele momento. Na época minha primeira dificuldade foi saber quanto cobrar, logo perguntei a um colega: “Cara! Quanto que eu devo cobrar por um desenho realista no tamanho A4?”, ele disse que um preço bom era vinte reais, daí pensei: “Poxa, parece ser tão pouco?”, mas vou fazer assim mesmo. Na época vinte reais era equivalente a uns quarenta hoje, mas eu gastava dez horas para fazer o bendito desenho. No final eu percebi que era muito trabalho por pouca grana, veja que se dividirmos o valor pelas horas trabalhadas, sai apenas 2 reais por hora, mas minha paixão por desenhar me fazia querer desenhar assim mesmo. Por fim, decidi que o preço seria entre 20 e 30 reais, dependendo da dificuldade. Assim comecei a atender alguns clientes. Logo quando fui entregar o segundo desenho, tive um problema, o cara começou a me enrolar; certo dia ele dizia que não tinha recebido o pagamento, em outra data ele disse que havia gastado a grana com a consulta urgente do filho; ou seja, sempre tinha uma desculpa. Ele me enrolou tanto que desisti de cobrá-lo. Imagina só, dez horas de trabalho e no final o cara me dar um belo de um calote? Ninguém merece!

Outro problema que passei, foram com as pessoas que achavam os meus desenhos caros, e olha que na época eram 30 reais por 10 horas de trabalho! Puxa, só dizia o preço e sempre tinha um que me respondia sem pensar: “Nossa cara! Tudo isso? É só um desenhinho, ta muito caro! Não, meu priminho sabe desenhar, só pedi para você porque você é um amigão meu.”. Daí percebi que a mentalidade do pessoal estava errada, parecia que o fato deles encomendarem um desenho, era como se eles tivessem fazendo um favor para mim; acho que eles eram tão desacreditados da profissão desenhista, que achavam que encomendar um desenho era como dar oportunidade para um zé mané.

De vez em quando aparecia alguém solicitando um desenho, daí eu dizia o preço e essa pessoa respondia indignada: “Tem que pagar?”. Parece um absurdo, mas isso ainda acontece, infelizmente.

Enfim, como se não bastasse todos estes problemas, digo que de forma geral a arte está desvalorizada. Não posso cobrar um preço decente, não consigo bons clientes, não consigo pagar minhas contas, a vida está uma desgraça e acho que nesse país o meu trabalho não tem vez. Esses são os motivos da minha desistência; acho melhor levar o desenho apenas como hobby mesmo…

Infelizmente casos deste tipo acontecem com frequência hoje em dia. Pode até parecer estranho, mas infelizmente, é esse tipo de notícia que as pessoas mais dão atenção, principalmente daqueles que desacreditam da profissão desenhista. As pessoas querem ver você bem, mas não melhor do que elas. Com certeza o desabafo acima também é o de muitos desenhistas brasileiros; seria muito triste se isso estivesse acontecendo comigo, mas felizmente não é nada disso, pode ficar sossegado que esta foi apenas uma historinha de exemplo… rsrs…

Apesar de ter passado por quase tudo o que contei acima, eu não desisti; e por isso venho na verdade fazer algumas observações sobre este tipo de problema e que acho necessárias para quem pretende trabalhar como desenhista. Meu objetivo não é desanimar ninguém, mas sim esclarecer algumas coisas que acho necessárias.

 

Aonde você quer chegar com o desenho?

Antes de tudo é necessário ter claro para você mesmo aonde quer chegar. Como bem dizia Kant: “Quem não sabe o que busca, não identifica quando encontra”. Uns querem ser quadrinistas, outros ilustradores freelancer, professores, desenhistas realistas, caricaturistas, entre outros; mas, se você não tiver claro onde quer chegar, vai gastar suas energias com coisas que não deveria e vai passar por dificuldades que não deveria passar. Reflita, identifique e tenha foco no que irá seguir.

 

Você realmente tem vontade de trabalhar como desenhista?

Quando falo em vontade de trabalhar como desenhista, não me refiro só a aprender a habilidade de desenhar. Muita gente vê outros desenhistas trabalharem e acham que tudo é um mar de rosas; pode até parecer muito bonito, mas muitas vezes não sabem o preço que eles pagam por fazerem o que fazem. Por isso é necessário ver se você está disposto a aprender outras matérias relacionadas, se está pronto para lidar com clientes caloteiros, preconceituosos, bajuladores; se está preparado para lidar com o preconceito dos que desvalorizam a arte. Vejo que muitos não querem ser desenhistas porque dizem que a arte é desvalorizada no Brasil; mas, o que fizeram para provar o contrário? Eu acredito que não depende do esforço de um ou dois, mas de todos nós. Outra coisa, essa mentalidade de pobre que infiltrou em nossa sociedade, tem raízes profundas no modo que fomos colonizados, muita gente está longe de saber o que é arte, e isso vai sempre atrapalhar o valor do nosso trabalho por muitos anos, não tenha dúvida.

Por isso aconselho que você mensure se sua motivação está acima das dificuldades que existem no caminho que irá lhe tornar um desenhista profissional. Analise tudo o que puder! Se for necessária uma faculdade para atuar em uma área específica, faça; caso precise de um curso de empreendedorismo para gerenciar melhor seu trabalho, corra atrás; se for apenas um curso básico de desenho, que faça este curso. Tudo deve ser nas devidas proporções; por isso não acho certo o cara dar uma volta toda em cursos sendo que o objetivo dele seja apenas trabalhar em uma simples função relacionada ao desenho.

 

Vale a pena a opinião de pais e amigos em nossa empreitada?

Em alguns casos você encontrará uma família mais lúcida, aquela que apoia o filho no que realmente ele tem potencial, ou que o desencoraja para o que realmente não vale a pena. Quando encontramos isso, pode ter certeza que o filho desde cedo demonstrará sinais de satisfação e sucesso, a não ser que ele seja daquele tipo de pessoa cabeça dura.

Dependendo da idade, podemos achar nossos pais uma negação para conselhos; mas há casos que eles não tem razão mesmo. No final das contas os pais querem que o filho seja bem sucedido, mas muitas vezes eles estão mais preocupados com a imagem da família do que na felicidade dos filhos. Imagina só, seu primo resolve seguir a carreira de medicina, daí você diz a seus pais que pretende ser um artista plástico; nesse caso haverá uma grande chance dos seus pais tirá-lo de ideia para seguir uma carreira que eles acham mais promissora (ou próxima da de medicina), principalmente para não deixarem a imagem da família por baixo da outra. Infelizmente estamos num mundo onde todos querem parecer ser, esta última, que muitas vezes está mais ligada a dinheiro e a imagem do que realmente a satisfação pessoal e profissional. Já pensou se uma pessoa com natureza de artista forma-se em direito por pressão da família? Se ela tivesse a natureza de comunicador e fosse forçada a formar-se em música? Isso é um erro que gera frutos monstruosos de insatisfação nas pessoas.

No caso dos amigos o apoio com certeza faz uma diferença enorme, mas também é complicado. Alguns são daquele tipo que dizem apoiar, mas são um dos primeiros a pedirem um desenho de graça. Não que desenhar de graça para um amigo seja um grande erro, mas a gente sabe quando o cara age de má fé.

 

Conclusão

Em resumo digo o seguinte, a arte não é para os fracos, ela é para os fortes; mas, para ser grande é necessário estudar e praticar muito. O processo naturalmente encarregará de peneirar e separar quem realmente tem potencial para se tornar um artista de sucesso, que é aquele que luta contra as dificuldades, mesmo com medo; que é criativo; que não se abala facilmente. Um artista de verdade sabe que os diferentes pensam diferente, e é por isso que ele vê além do que alguns costumam ver. Se for o caso desse não ser o seu caminho, tenha a humildade de reconhecer que não é, do contrário, aconselho que não se amedronte perante as primeiras dificuldades, elas são apenas um sinal de que você não está fazendo as coisas como deveriam; por isso, lute, persista e encontre o caminho certo! Quanto maior a dificuldade, maior é a vitória!

Espero que você tenha gostado desse post. Até mais!

17 comentários sobre “Venho comunicar a minha desistência da Profissão Desenhista

  1. Mano Meu Pai Me Desanimou De Desenhar só porque eu pedi a ele uma mesa digitalizadora,todos tem menos eu,ele tem muito dinheiro,só gasta com mulher essa coisas mais para mim nao,Eu Olho a lanchonete dele por 4 horas para ele me desanimar,mais quando li isso aqui sei que sou forte e vou continuar ele pode ser meu pai,pode me desanimar mais eu vou em frente vou batalhar,vou ser um dos melhores,sei que quando eu ser ele vai vir falando : eu sempre te apoiei,pois eu n sei oque fazer,vou deixar tudo nas mãos de Deus,Muito Obrigado Mano Fica Com Deus Ai.

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